Apesar destas lacunas na legislação existe em Moçambique um ambiente de relativa
liberdade de expressão e de imprensa, incluindo nos meios de comunicação social
do sector público. Tanto a Rádio Moçambique como a Televisão de Moçambique
têm programas interactivos regulares em directo, que incluem a participação do
público, através de chamadas telefónicas ou SMSs.
Embora o quadro legal em Moçambique seja geralmente favorável à liberdade de
expressão, foi notado durante os debates que existem práticas limitadas por receio
e medo, quer entre os cidadãos, quer entre jornalistas. Estes comportamentos
relectem geralmente temor individual, sem causa oicial, causado por insegurança
ou desconhecimento dos seus direitos, ambiente que é reforçado por uma cultura
institucional de secretismo. Em Maio de 2010, realizou-se na Assembleia da
República (Parlamento) um debate sobre a existência ou não de células do Partido
Frelimo em instituições públicas. O debate foi suscitado devido ao facto de haver
uma crença cada vez mais forte de que a existência de células do partido Frelimo
constitui um factor de inibição da liberdade de expressão na Função Pública,
onde geralmente pessoas receiam emitir opiniões críticas, temendo que tal possa
inluenciar a sua situação laboral e interferir na sua progressão proissional.
Esta situação poder ser testemunhada pela proliferação de cartas anónimas
denunciando alegadas práticas de má conduta em instituições públicas. A
proliferação dessas cartas demonstra a ausência de um espírito de abertura e de
diálogo ao nível das instituições em causa, o qual permitiria que as questões fossem
debatidas de forma aberta e sem receios.
Estes receios tornaram-se evidentes durante as manifestações populares registadas
nos dias 1 e 2 de Setembro de 2010 em protesto contra o elevado custo de vida nas
cidades de Maputo e Matola, as quais foram inicialmente ignoradas pela Televisão
de Moçambique, numa atitude considerada pelos participantes como tendo sido
de “denegação do direito do povo à informação”.
Os participantes reairmaram ainda as constatações das rondas anteriores no que
se refere a assimetrias regionais na prática da liberdade de expressão: reairmaram
que a prática da liberdade de expressão vai se tornando cada vez mais limitada
quanto mais distante dos principais centros urbanos. Esta situação tem sido notória
durante as visitas do Chefe do Estado aos distritos e postos administrativos,
onde são apresentadas queixas sobre alegados desmandos de agentes locais do
Estado. Numa situação de liberdade, tais questões poderiam perfeitamente serem
apresentadas às autoridades locais.
Moçambique não possui ainda uma legislação especíica sobre a radiodifusão. Um
ante-projecto de lei sobre rádio e televisão foi elaborado, tendo o debate público
sobre a mesma sido lançado pelo Primeiro Ministro Aires Ali em Maio de 2010.

BARÓMETRO AFRICANO DA MEDIA MOÇAMBIQUE 2011

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