Português
de quaisquer leis, regulamentos e requisitos técnicos aplicáveis no âmbito das
suas atribuições”; e “verificar o cumprimento, pelos operadores de rádio e
televisão, dos objectivos e condições
genéricos e específicos estabelecidas
nos respectivas alvarás”. Além disso, a
ERCA terá competência para apreciar e
decidir sobre “comportamentos susceptíveis de configurar violação de quaisquer normas legais e regulamentares”,
não só mediante queixa dos “interessados”, mas também “por sua iniciativa
própria”. Cabe recordar que se trata de
um órgão que será governado por partidos políticos, numa composição que reflecte a força política nacional, ou seja,
com uma maioria de integrantes que
representam o MPLA.
A Lei de Imprensa de 2006 previa um
conjunto de estatutos subsidiários e
decretos para governar a comunicação
social. Estes foram agora decretados
como leis de direito próprio. A Lei do
Exercício da Actividade de Televisão, a
Lei sobre o Exercício da Actividade de
Radiodifusão, a Lei do Estatuto do Jornalista e, sobretudo, a Carteira de Jornalista. No evento de qualquer jornalista em situação irregular, trabalhar sem
carteira, o órgão a que pertence pode
ser punido com uma multa equivalente a dez salários mínimos da função
pública. A multa triplica no caso de
reincidência. A nova lei também torna
incompatível com a profissão de jornalismo o desempenho de funções por
estes profissionais em relações públicas,
assessoria, e afins, uma prática comum
em Luanda, muitas vezes com interesses
conflitantes. De acordo com a nova Lei
de Imprensa, jornalistas podem ser punidos com sanções disciplinares, civis e
criminais, com multas de US $ 600 a US
$ 120 mil por violações da lei. A nova
lei criminaliza também a publicação
de imagens, como caricaturas, que podem ser consideradas ofensivas. Após a

24

So This is Democracy? 2016

entrada em vigor do novo conjunto de
leis, os profissionais da comunicação
social terão 90 dias para as necessárias
adaptações. O MISA-Angola manifestou o seu desagrado pelo facto de que a
nova lei atribui ao ministro das Comunicações poder para suspender qualquer
transmissão televisiva sem qualquer
mecanismo de contestação ou processo
de revisão.
Curiosamente, numa região onde as organizações da liberdade de imprensa lutam para eliminar todos os obstáculos à
liberdade de expressão e à liberdade de
imprensa, em Angola existe quem entre
os jornalistas é a favor da introdução da
carteira de jornalista. Entre estes estão o
Sindicato dos Jornalistas. Em ocasiões
anteriores, secções de jornalistas angolanos defenderam a regulação estatal da
comunicação social, apontando Portugal como um exemplo onde este sistema
funciona bem, com todos os elementos
que o novo pacote de leis pretende implementar, incluindo o requisito de formação a nível superior (possivelmente
uma licenciatura) para poder exercer a
profissão de jornalismo. No seu 4º Congresso, realizado em Setembro, o Sindicato resolveu empenhar-se no processo
de aprovação do Estatuto do Jornalista
e a criação da Comissão da Carteira e
Ética. O Sindicato lamenta que depois
de 35 anos de independência, os jornalistas angolanos não tenham um titulo
profissional. Em contrapartida, o MISAAngola criticou a criação da ERCA. Um
decano do jornalismo angolano manifestou a opinião de que os jornalistas
devem pressionar o governo a promulgar toda a gama de legislação da comunicação social. Este acusou os políticos de apontar o dedo para o trabalho
dos jornalistas, enquanto são estes que
impedem a implementação da regulamentação da comunicação social. No
momento da aprovação da lei na generalidade, em Agosto, os membros da

Select target paragraph3