A

luta histórica entre
a
comunicação
social e o governo em Angola há
muito tempo é impulsionada pela
constante necessidade de obstruir a
fiscalização e impedir a transparência, porque invariavelmente a revelação de qualquer podre
em Angola revelaria alguém a lucrar directa ou indirectamente. Um sistema de
clientelismo bem articulado assegurou
até agora que o sistema é coeso e praticamente defendido contra acusações
de corrupção, contando com apoio suficiente no governo, no judiciário, nos
militares e no sector empresarial. Esta
arquitectura institucionalizada de corrupção ao mais alto nível representa a
maior ameaça a possíveis mudanças
significativas com o leme nas mãos do
novo presidente, João Lourenço
Neste contexto, um importante evento
em Portugal pode representar um certo
auxílio, sob a forma de um acórdão
do Tribunal da Relação de Lisboa, no
sentido de Portugal poder investigar
fundos pertencentes a elites angolanas,
independentemente de haver ou não
processo-crime em andamento em Angola. Antes da decisão, Portugal podia
investigar apenas nos casos em que
os fundos já eram alvo de uma investigação em Angola. O novo acórdão
afirma que, desde que os fundos entrem
em Portugal e levantem suspeitas, as autoridades portuguesas podem averiguar
a sua proveniência e como foram conseguidos.
Pouco antes das eleições gerais de
Agosto do ano passado, o Sindicato
de Jornalistas Angolanos (SJA) criticou
os órgãos de comunicação públicos
por serem parciais nos seus programas
de análise, com convidados que pre-

Angola
dominantemente favoreciam a posição
do Movimento Popular de Libertação
de Angola (MPLA). O diário Jornal de
Angola foi poupado, com o secretáriogeral do SJA, Cândido Teixeira, a citar o
seu “desempenho exemplar”. A recémcriada ONG Handeka monitorizou a
cobertura eleitoral entre 23 e 27 de Julho e concluiu que os órgãos de comunicação estatais favoreceram o MPLA. Por
outro lado, a antiga estação de rádio da
Uniao Nacional para a Independeicia
Total de Angola (UNITA), transformada
na Rádio Despertar, foi acusada de ser
tendenciosa a favor da UNITA.

A luta histórica entre
a comunicação
social e o governo
em Angola há muito
tempo é impulsionada
pela constante
necessidade de
obstruir a fiscalização
e impedir a
transparência, porque
invariavelmente a
revelação de qualquer
podre em Angola
revelaria alguém
a lucrar directa ou
indirectamente.

So This is Democracy? 2017

21

Select target paragraph3