State of the media in Southern Africa - 2003
país. Nalgumas dessas sessões, o ministro dirigiu criticas à imprensa privada, nomeadamente
aos jornais privados e à rádio ecclesia, acusando-os de guerrilha informativa e de estarem ao
serviço de interesses estrangeiros.
Há latente, ainda hoje, um conflito entre o governo e a imprensa privada por causa das críticas
ao desempenho do governo, mas não só. A emissora católica espera pela autorização do governo
para estender o seu sinal por todo o país enquanto que a imprensa privada espera pela prometida
ajuda feita pelo governo.
A situação em Angola pode, assim, ser avaliada como sendo de lentos progressos, ou dito de
outro modo, uma situação de progressos proporcionais aos da democracia. De resto, muitas
condições que emperram avanços mais rapidos da liberdade de imprensa, dependem unicamente
da solidez da democaria, nomeadamente:
* A existência de células partidárias nos órgãos de comunicação publico, que dão aval para a
nomeação dos responsáveis editoriais.
* A interferência dos governos provinciais, nos conteúdos da comunicação social do Estado e
os conteúdos, quase propagandísticos, a favor do governo e partido no poder.
* A excessiva concentração de órgãos na capital centralizando, também os critérios e os modelos
de representação quer seja cultural, étnico como racial.
É óbvio, que não se trata de uma situação exclusiva de Angola. Há muitos outros países no
mundo que vivem esse dilema, mas no caso angolano, por se tratar de um país com uma
premente necessidade de eliminar novos focos de conflito, torna-se urgente a criação de
mecanismos práticos que passem a democracia do papel para o dia a dia; que tornem a vida
igual para todos, que os cidadãos, as pessoas, os partidos políticos, as ongs tenham a mesma
atitude perante a lei e tenham as mesmas oportunidades a todos os níveis.
Fraternidade na comunicação Social.
A constatação inicial que aqui fizemos referia a fraqueza e a vulnerabilidade da classe jornalística
angolana. O facto de não existir uma carteira profissional nem critérios estabelecidos para
admissão de jornalistas, leva a que qualquer cidadão possa ser jornalista. Não há nenhum
mecanismo de auto-regulação que penalize ou censure comportamentos pouco éticos, ou seja
não há nem carteira profissional nem ética profissional, cuja fidelidade se pode cobrar a um
jornalista. O próprio estatuto do jornalista, é hoje um documento desactualizado e não responde às principais reclamações das associações representativas da classe.
A responsabilidade neste estado de coisas é partilhada entre o governo e as associações de
jornalistas. O governo e os responsáveis das empresas públicas criam dificuldades para a
assinatura de um acordo colectivo, que resolveria alguns dos problemas dos jornalistas mas
entre os próprios jornalistas existem os que, para agradar o governo, criam dificuldades à sua
própria classe. De resto continua a manter-se uma aparente crispação entre sindicato a União
dos jornalistas angolanos, sem que exista, na verdade, qualquer antagonismo, para além da
atitude perante o governo.
Desde modo, não é possível dizer-se que em Angola há já uma consciência de classe dos
jornalistas. O retrato dos jornalistas em Angola está ainda demasiado marcado pela existência
de baixos salários, de criação de pequenos grupos de privilegiados que recebem benesses e
luxuosas ofertas ou, ainda pelo facto dos jornalistas não se conseguirem agrupar numa única
organização.

So This Is Democracy? 2003

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Media Institute of Southern Africa

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