O

ano de 2008 marca, em muitos aspectos, o ponto de viragem em termos de liberdade dos
órgãos de comunicação social e de liberdade de expressão no Botswana. O relatório de
2008 da organização Repórteres Sem Fronteira afirma que existem áreas problemáticas que
tornam o trabalho dos jornalistas difícil. O país passou de uma “Situação Satisfatória” para
uma situação de “Problemas Visíveis”. Existem muitos motivos para o actual ponto da situação.
O ano 2008 foi de sucessão automática do presidente. No dia 1 de Abril de 2008, a panorama
político do Botswana foi transformado com a tomada de posse de Ian Khama Seretse Khama
como chefe do estado e a administração Khama entrou em vigor numa altura em que já estava
em curso a aprovação de uma serie de mecanismos e processos legislativos iniciados pelo
governo anterior e que eram vistos por muitos na comunidade dos órgãos de comunicação
social e pela sociedade civil como o golpe fatal à amada democracia e das liberdades cívicas
de que o Botswana desfrutou no passado.
A comunidade dos órgãos de comunicação social no Botswana mostrou-se surpresa por ter
sido catalogada pelo novo Presidente da Republica, como sendo indisciplinada e negligente, ao
considerar que os órgãos de comunicação são responsáveis pelos males sociais que enfermam
o país, tais como a violência doméstica e a condução em estado de embriaguez.
A visão frígida de Khama em relação aos órgãos de comunicação social emergentes impressos, resulta de uma contenda com a impressa independente, na altura em que ocupava o cargo
de Comandante do Exército. Nessa altura a impressa dizia que Khama parecia determinado
a ascender a presidência da república, e agora, a percepção geral dos órgãos de comunicação
social é que a atitude de Khama em relação a Media, especialmente a independente, é muito fria.

Ambiente Legislativo
A aprovação da Lei do Jornalista em 2008, marcou o ponto de partida das relações do Governo
com os órgãos de comunicação social, com estes últimos a considerarem que a aprovação desta
Lei constitui uma manobra legislativa com aplicações que não proporcionam um ambiente
salutar para o exercício das actividades dos órgãos de comunicação social no Botswana.
O Governo, através do Ministério das Comunicações, Ciências e Tecnologia viu a necessidade de
aprovar uma lei que criasse um Conselho dos Órgãos de Comunicação Social para monitorar as
actividades dos órgãos de comunicação social e garantir a manutenção dos padrões profissionais.
Segundo essa Lei todos jornalistas residentes no país devem ser registados e acreditados. A
infracção deste dispositivo incorre a uma multa de P5000 ou de 1 aos 3 anos de prisão ou a
combinação de duas penas para qualquer pessoa que faça a reportagem ou cobertura de um
evento sem acreditação.
A Lei criminaliza o envolvimento de cidadãos comuns em actividades dos órgãos de comunicação social, limita a área de actuação da prática desta actividade, pelo que pode ser utilizada
para suprimir pontos de vista alternativos ou diferentes.
A Lei do Jornalista põe em causa a independência editorial e ao mesmo tempo atribui amplos
poderes ao Ministro, ao habilita-lo para nomear vários comités, como por exemplo o Comité
de Petições e o Comité de Recurso.
Uma secção considerável dos actores da comunicação social repudia veemente a Lei do Jornalista sob pretexto de que a mesma serve para impor restrições ao exercício das actividades da
comunicação social numa clara violação das disposições constitucionais do país que consagram
a liberdade de discurso e ou de expressão.
So This Is Democracy? 2008

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Media Institute of Southern Africa

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