O ano 2016 não foi diferente de qualquer ano no que diz respeito a temas que dominaram dia-a-dia – mas certamente foi bem mais intenso. Os angolanos deram as boas vindas ao novo ano com fortes ressacas do ano anterior – tudo aquilo que ficou por concluir, como já é de costume, com grandes questões que se arrastam por anos antes de aparecer uma solução. Destacam-se entre estes, o debate ora sim, ora não, sobre a sucessão do Presidente José Eduardo dos Santos, processos igualmente ora sim, ora não, contra jornalistas por fazerem o seu trabalho, em específico, Rafael Marques, e por último, mas não menos importante, a regulação ora sim ora não, ora sim, ora não, da comunicação social, que continua pendente desde a promulgação da Lei de Imprensa em 2006. Habemus presidentum? A incerteza sobre a eventual saída da política do presidente Dos Santos, de 74 anos, persiste, apesar da ‘evidência’ esmagadora de que agora é a sério. Com as eleições legislativas programadas para o dia 23 de Agosto do corrente ano, parece que Dos Santos finalmente entregará o poder depois de quase quatro décadas. Em termos da nova constituição de 2010, o país deixou de ter eleições presidenciais, optando pelo sistema de representação proporcional por listas partidárias, com o candidato número um do partido vencedor automaticamente conduzido à presidência. A mudança ofereceu uma solução cirúrgica ao debate incomodativo em torno do mandato de Dos Santos, limitado a dois mandatos de cinco anos de acordo Angola com as constituições 1975 e 1992, que não elucidavam de forma cabal quando a presidência de Dos Santos realmente começou, visto que a segunda volta das eleições presidenciais contra o dirigente da UNITA Jonas Savimbi nunca teve lugar. Da mesma forma, não havia clareza sobre se ou não Dos Santos já tinha cumprido os seus dois mandatos, visto que o país passou por períodos de guerra e paz, tornando impossível realizar eleições. Há uma boa razão para a incerteza persistir. A notícia da saída de Dos Santos ao longo dos anos já foi estampada na capa de jornais em várias ocasiões. Em 2016, estas traçaram um ora sim, ora não de desenvolvimentos contraditórios, começando com a notícia em Março que Dos Santos estava a preparar um dos filhos para assumir as rédeas. A notícia ganhou impulso quando também em Março, foi anunciado que Dos Santos deixaria o cargo em 2018. No entanto, esta notícia deixou analistas perplexos, visto que as eleições estavam agendadas para 2017, o que levantava a pergunta de como Dos Santos permaneceria presidente e, em seguida, entregaria o poder a um candidato substituto. Em Junho, Dos Santos anunciou que se candidatava à presidência do MPLA, que ocorreriam em Julho. Sem outro candidato, Dos Santos foi eleito por unanimidade, e confirmado pelo partido em Agosto. O debate culminou com a notícia, em Dezembro, de que o sucessor do Presidente Dos Santos havia sido identificado na pessoa de João Lourenço. No entanto, em nenhum momento ficou claro que Dos Santos estava fora de cena, com a lista final ainda sujeita a ajustes, ainda por tramitar pelas várias etapas no processo de aprovação no Bureau Político e no Comité Central do partido entre Janeiro e Fevereiro de 2017. Por bastante tempo do passado recente, o So This is Democracy? 2016 21