SECTOR 1

fortalecendo esta avaliação é a abundância de intervenções com recurso
ao anonimato em programas de rádio (exemplo: ´Café da Manhã´, da Rádio
Moçambique) e televisão (exemplo: ´Linha Aberta´, da STV), diferentemente
do que sucedia num passado recente. O mesmo acontece, segundo os vários
painelistas, com os jornalistas, sobretudo com aqueles que trabalham no sector
das rádios comunitárias sob os auspícios do Instituto de Comunicação Social
(ICS): há, amiúde, relatos de ´chamada de atenção´ por parte de governantes
distritais ou dos delegados no próprio ICS, ou mesmo casos de detenções de
alguns colaboradores pelo facto de manterem colaboração com outros media
nacionais e internacionais; o que, na consideração dos painelistas, contraria com
a liberdade profissional do jornalista.
Um exemplo, pelas dificuldades de excercer a liberdade de expressão discutido
bastante pelo painel, foi a cobertura journalística das ´dívidas ocultas´
(empréstimos de 2,2 biliões feito pelo governo com garantias de estado sem
consulta ao parlamento, violando as prescrições da Constituição). Mormente,
devido às acções de propaganda e contra-informação que são vivenciadas
quando se exige, por exemplo, a responsabilização dos que endividaram
ilicitamente o país.
O medo de sofrer repressões, leva jornalistas à auto-censura, o que, no fim
do dia, pode até afectar a qualidade dos conteúdos que são disponibilizados
ao público, bem como fragilizar o papel dos media enquanto “watchdogs” e
contra-poderes em sistemas democráticos.
Por outro lado, o painel constatou também que assiste-se ao crescimento de
desconfiança dos cidadãos com referência às instituições do Estado, sem
excepção. Fora da Capital Maputo, sobretudo nas zonas onde decorre a extracção
de recursos naturais (exemplos: Temane, em Inhambane; Moatize, em Tete;
Namanhumbir e Palma, em Cabo Delgado), a situação se mostra particularmente
grave, com tendência a piorar. Apesar de tudo, há grupos isolados, até ao nível
comunitário, que se manifestam contra aquilo com que não concordam. Assistiuse, recentemente, a manifestações (Agosto de 2018) de camponeses de Olinda,
no distrito de Inhassunge, na província da Zambézia, em discordância com uma
acção de reassentamento que estava para ser-lhes administrada, em virtude da
descoberta, naquela zona, de recursos naturais com valor comercial. Antes (Maio
de 2018), uma comunidade de camponeses de uma zona rural do município da
Matola (Sigwava) manifestou-se até à Presidência da República, em protesto à
morte de uma criança por uma bala perdida, que tinha como proveniência um
quartel militar algures no âmago da povoação.
Alguns painelistas defenderam que muitos tribunais têm tido uma relação
problemática com a liberdade de expressão, não a defendendo enquanto
direito fundamental, embora existam raras e honrosas excepções. Também
constataram, que o papel de instituições públicas como a Comissão Nacional de
Direitos Humanos (CNDH) e o Provedor de Justiça ainda se não evidenciou no
que diz respeito à defesa dos direitos fundamentais, de cujo escopo a liberdade
de expressão, a liberdade de imprensa e o direito à informação são partes.

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BARÓMETRO AFRICANO DOS MEDIA MOÇAMBIQUE 2018

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